O "Nubank da telecom" vai ser o Nubank
O que o NuCel representa para quem está tentando reinventar o outro lado da telefonia.
Desde o lançamento do NuCel, a operadora de celular do Nubank , começaram a chegar perguntas para mim: isso afeta a Salvy? É concorrência? Era algo que esperávamos?
Essas perguntas me fizeram pensar sobre como os movimentos no nosso setor se encaixam. A maioria das pessoas olha para a telecom como um mercado estático, dominado por poucos gigantes. Mas quando o Nubank entra, o jogo muda.
Três anos atrás, eu fundei a Salvy, uma operadora virtual voltada para empresas. A ideia era simples: tornar o celular corporativo algo que não fosse sinônimo de dor de cabeça. Hoje, mais de 3 mil empresas usam nossos planos todos os dias.
Desde o início, a pergunta que mais ouvi foi: “por que vocês não fazem B2C?”. A resposta sempre foi simples: não vamos fazer. O Nubank da telecom vai ser o Nubank.
O B2C é um jogo de distribuição, e nisso o Nubank é imbatível. Eles têm alcance, marca e relacionamento direto com centenas de milhões de pessoas. Faz todo sentido que usem isso para oferecer uma operadora simples e digital.
No dia em que anunciaram o NuCel, comemorei.
O NuCel e a Salvy jogam em campos diferentes, mas enfrentam os mesmos gigantes. Eles no B2C, nós no B2B. À primeira vista, são histórias distintas. Mas por baixo, a arquitetura mental é a mesma.
Quando vi o primeiro deck do Nubank, ainda chamado EOS, parecia que estava lendo o da Salvy. Era só trocar “bank” por “carrier” e “consumer” por “company”. A lógica era idêntica: Davi contra Golias, a descentralização como princípio, o virtual como forma natural de existir, o foco absoluto no usuário, e a ideia de que produto e cultura são, no fim, a mesma coisa.
Tecnicamente, também temos muito em comum. Ambas somos operadoras virtuais, empresas que “alugam” a infraestrutura das redes existentes e constroem toda a camada de serviço por cima: billing, atendimento, tecnologia. O NuCel usa a rede da Claro. A Salvy, da Tim e da Vivo.
Mas o ponto que mais me anima é o impacto sistêmico que isso gera.
Por anos, tivemos que explicar o que é uma operadora virtual. Agora vai ficando mais fácil: “então vocês fazem tipo o que o Nubank está fazendo, só que no B2B?”. Além disso, quanto mais players relevantes entram no setor, mais força ganha a discussão regulatória, e mais difícil fica manter as barreiras que historicamente travaram a mudança em telecom.
E tem também o efeito indireto: o de abrir a cabeça dos investidores. Quando o Nubank começa a transformar o setor conosco, o espaço para capital de risco em telecom cresce. As conversas mudam de tom.
No fim das contas, o que estamos fazendo é a mesma coisa: tentando mudar um dos setores mais antigos e engessados do país. A diferença é o público. A missão é a mesma.
Escrevi esse texto numa manhã de domingo, lembrando do primeiro pitch deck que fiz para a Salvy em 2021. Quase tudo ainda é verdade, só o mundo ao redor ficou mais interessante. Com ou sem Nubank, sabemos que podemos mudar um dos setores mais tradicionais do país. Mas é muito mais legal ter essa companhia roxinha.





